Casa no Cosme Velho

A casa do início do século XX, localizada no bucólico bairro do Cosme Velho, viveu duas reformas, distantes quase 20 anos. Ambas passaram pela concepção do sócio da MEMO Fabio Memoria.

No início dos anos 2000, ainda como estudante de arquitetura, Fabio foi convidado a elaborar um projeto de reforma e ampliação da casa, com intuito de modernizar seu uso, já que a casa possuía ainda uma configuração praticamente original. Dentro dessa demanda, ainda existia a necessidade da criação de mais dois quartos, sendo um de hóspedes, no térreo, e um ateliê, no segundo andar.

O projeto, que teve colaboração da também à época estudante arquiteta Carolina Rezende, teve como principal estratégia a transformação do antigo e renegado quintal dos fundos em um pátio central. A ideia era que o pátio conectasse os ambientes ao seu redor (sala, quartos e cozinha) com amplas portas de vidro, agregando mais iluminação e ventilação. Esse partido fez com que o espaço se tornasse o coração da casa e qualificasse assim a ambiência dos novos cômodos criados.

No térreo, para viabilizar o quarto de hóspedes dando para o pátio, foi necessário uma troca de posição da área de serviço com o antigo quarto de empregados, que era pouco provido de luz e ventilação. A solução para ampliar essas valências na nova área de serviço foi o uso de shed e clarabóia na cobertura. Os clientes gostavam de um estilo de arquitetura mais rústica e, portanto, foi sugerido a eles que deixassem o tijolo maciço original da casa aparente, tanto externamente quanto pontualmente nos interiores. Dessa forma, conseguiu-se também destacar com mais clareza a volumetria mais racionalista adotada no circundante ao pátio, onde foi a principal intervenção da reforma. A obra foi executada pela também arquiteta Eneida Coelho, que complementou as ideias, dos então estudantes, com o piso de cimento queimado branco, os rodapés de cimento altos, e os interiores da primeira intervenção.

20 anos depois, Fabio teve o prazer de intervir novamente na casa e desenvolver também os interiores. Dessa vez, em parceria com a arquiteta Flávia Lima, a demanda principal era, além dos interiores geral da casa, a ampliação da cozinha, já que os novos moradores tinham um apreço maior pela gastronomia.

A solução foi a transferência do lavabo, antes anexo à cozinha, para um ambiente de circulação de serviço, que hoje não faz mais sentido nos moldes atuais. Isso, por si só, já seria suficiente para a ampliação do espaço e permitir a conexão da cozinha com a sala de jantar. Porém, a solução ficou ainda mais agradável com o deslocamento do fluxo de circulação da ponta para o centro da cozinha, permitindo bancada de ambos os lados, além da ampliação do vão para o pátio. Essa ampliação foi desenhada juntamente com uma bancada corrida, que conecta o ambiente interno com o externo do pátio e cria não só uma ilha para o fogão, de frente para o pátio, mas também um balcão para bancos altos na frente e uma bancada de copa interna. A abertura vertical das janelas no estilo “feira” foi solucionada com corda e roldanas que, juntamente com o uso da cerâmica avermelhada, integram o pátio e a cozinha, além das luzes em varal que criam um ambiente extremamente bucólico no pátio.

Já os interiores foram desenvolvidos primordialmente com móveis e obras de arte modernas, a fim de criar contraste com o estilo rústico da casa e evitar ambientes pesados. Contudo, os ambientes foram pontualmente compostos com objetos e peças da cultura popular brasileira, ou retrôs. O conjunto de mobiliário possui diversas peças da designer Ignez Ferraz, poltrona e lustre de Joaquim Tenreiro, mesa de jantar de Phillip Stark, cadeiras Charles & Ray Eimes, além das cadeiras Tonet. Os quadros, na maior parte das vezes, são posicionados de forma assimétrica ou em paredes em geral negligenciadas, ajudando a compor um espírito criativo e instigante. Artistas como o próprio Joaquim Tenreiro, Gerchman, Burle Marx, De Melo e Renina Katz também estão contemplados.