É possível exportar Arquitetura?

Por: Ignez Ferraz

Neutelings Riedjik ,“5 Sfinxen Housing” em Huizen, Países Baixos, 2000-03. Cada um dos blocos vai se estreitando em direção às águas para oferecer as melhores vistas do lago Gooimeer. O escalonamento permitiu a criação de terraços voltados para o sol, nos “fundos” de cada bloco.

Ela é, ao mesmo tempo, alegre e nostálgica, além de rústica e elegante.

O Goethe-Institut organizou a exposição “Ready to take-off – Arquitetura Alemã de Exportação. Um dos participantes foi o escritório Behnisch Architekten.

David Cook concedeu uma palestra para explanar o conceito dos seus greenbuildings, apoiados na sustentabilidade. Afirmou, porém, que NÃO há (ou se houver, eles não se inserem no grupo) uma Arquitetura de Exportação. Sua defesa:

“It is quite difficult for me to narrow this discussion down on the sole aspects of the so-called architecture for exportation. In our opinion, there is no such thing as German architecture for exportation. So, maybe it exists, but NOT in our work. We do not design for export, we design for the location in the cultural, climatic, topographic, geographic and geological context.”

Vou “botar fogo” nesta discussão, afirmando que existe SIM, e, quando existe, ela não é de “menor qualidade” dos que não a praticam.

Maurice Nio, “Soundbarrier Houses” em Dipendaal, Países Baixos, 1997-2001. As doze casas são parte integrante de um aterro que funciona como barreira sonora ao longo da estrada. Assim foi possível constituir um microclima propício à criação de um elegante bairro residencial nos bosques de Hilversum. A adequação ao local, bem como sua estética futurista, fizeram deste projeto um grande sucesso, totalmente vendido mesmo antes de concluído.

Estes dois exemplos acima, apesar de terem sido projetados para resolver situações específicas, não poderiam estar localizados em qualquer cidade do mundo? Por que milhares de (ótimos) arquitetos das mais diferentes nacionalidades teriam um único percurso a trilhar?

O conhecimento tecnológico e artístico que eles devem absorver habilita-os a optar entre diversos caminhos.

REPLICANTES X SITE-SPECIFICS

1 – O “Estilo Internacional” dominou a Arquitetura nas décadas de 1920 e 1930. Os princípios do seu design constituem parte da estética do Modernismo: o ornamento é crime, verdade nos materiais; formas cúbicas em plantas retangulares e fachadas com ângulos de 90°; “form follows function”(Louis Sullivan); e a descrição de Le Corbusier das casas como “machines à habiter”.

Tinham como paradigma que a solução arquitetônica era indiferente ao local e clima e por isso mesmo foi batizado de “Internacional”.

“Lever House”, projeto de Gordon Bunshaft do grupo Skidmore, Owings and Merrill, Nova York, 1952 . Um dos melhores exemplos do Estilo Internacional, estética dominante na arquitetura corporativa americana.

2 – Em contrapartida, as teorias da “Desconstrução” devem muito ao filósofo Jacques Derrida e ao Construtivismo russo dos anos 20. Seus arquitetos teóricos foram Bernard Tschumi e Peter Eisenman, mas o grande impacto coube ao escritório austríaco Coop Himmelblau, que idealizou, em 1984, o que ficou apelidado de “asa ardente” (inspirado no inseto de Kafka), no alto de um imóvel antigo.

Coop Himmelblau,“Dachausbau” em Viena, Áustria, 1983-88. Um “corpo estranho” implantado sobre uma construção histórica. A busca de uma relação com a esquina e a conexão visual entre o novo telhado e a rua, foram as principais preocupações no projeto – e não a contextualização com o existente.

Alguma destas duas linhas está errada? Claro que não! Tudo depende do quanto o arquiteto se sente confortável e inserido na concepção e/ou solução arquitetônica perante seu novo desafio.

Ainda hoje as duas propostas apresentam (bons) desdobramentos e discípulos – além dos próprios arquitetos supra citados, que mantiveram suas filósoficas antagônicas até os dias de hoje.

Ready to take-off! BYE, BYE…

Obs: Existe ainda uma TERCEIRA FILOSOFIA, mediatriz das outras duas: são as edificaçőes GLOCAIS, que mesclam a alta tecnologia globalizada com inspiraçőes culturais locais.

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